quarta-feira, 27 de março de 2019

Vendas de Cannabis legal podem salvar países em crise


Para um país como o Brasil, que fechou 2018 com um déficit de R$ 120 bilhões em suas contas, o surgimento de uma indústria completamente inexplorada para a geração de novas receitas, o chamado “dinheiro novo”  é uma oportunidade daquelas que só aparece uma vez na vida. Seria uma alternativa real e legítima para compor uma nova leva de receitas que possam compensar, por exemplo, uma reforma da previdência que não alcance os valores necessários para ajudar no reequilíbrio das contas nacionais.
Um estudo recente da Euromonitor, um dos mais conceituados institutos de pesquisa de bens de consumo e serviços do mundo, apontou que o comércio legal de Cannabis movimentará US$ 166 bilhões em 2025. No ano passado, por exemplo, esse montante ficou em apenas US$ 12 bilhões. O grande crescimento será impulsionado pelo avanço na regulamentação da venda e produção da Cannabis globalmente.
Já o comércio ilegal da planta, no mesmo ano de 2018, foi de cerca de US$ 138 bilhões, de acordo com estimativas da Euromonitor. O montante se refere a países que não adotam nenhum tipo de comercialização legal da cannabis. Exatamente por isso, deixam de aproveitar o potencial financeiro e transformador de um novo negócio que foi apontado em reportagem de capa da revista Forbes como a mais promissora indústria dos Estados Unidos quanto ao potencial de geração de riquezas, tanto para investidores quanto para os países que decidirem pelo caminho da legalização.
O Brasil, infelizmente, está nessa lista. A projeção da Euromonitor é de que a legislação brasileira não avançará pelos próximos dez anos.
Quem está surfando a onda da Cannabis legal
Na outra ponta está o Canadá, que já em 2018 adotou legalmente a legalização do comércio de cannabis. E os Estados Unidos, país que, de acordo com as projeções, deve adotar leis federais para o uso recreacional até 2030 – seguindo parte de seus entes federativos que, nos últimos anos, buscaram a legalização parcial ou completa do medicamento. O presidente Jair Bolsonaro acaba de voltar de viagem oficial ao país comandado por Donald Trump. Muitos temiam que a eleição de um presidente republicano nos EUA faria com que a jornada de legalização sofresse um retrocesso. Não foi o que aconteceu – e os números sobre o potencial de geração de receitas do mercado legal de Cannabis poderiam muito bem estar na pauta de negociações e troca de expertise discutida entre os presidentes.
Outro polo de consumo onde a maconha deverá ser legalizada completamente é entre os países da União Europeia, além de regiões da América do Sul e, em menor escala, na Ásia.
A visão já não é favorável aos dois países que, juntos, somam 36% da população mundial. Segundo a consultoria, Índia e China devem alcançar, no máximo, a legalização medicinal da erva em 2030.
Para os próximos cinco anos, as projeções indicam que os dois modelos de comercialização, legal e ilegal, registrarão alta acentuada. Juntos, devem crescer 40% no período.
“A indústria está mudando diariamente, se não a cada hora. Por isso, as cifras nunca podem ser exatas”, explica Spiros Malandrakis, líder de pesquisa em bebidas alcóolicas da Euromonitor e um dos responsáveis pela condução de estudos sobre a indústria da cannabis na instituição.
De qualquer forma, a crescente legalização do setor dá aos países e estados que adotarem medidas semelhantes a possibilidade de gerar renda com a arrecadação de impostos sobre a planta, além de controlar a qualidade do produto final com agências reguladoras – protegendo, assim, quem escolher fazer uso recreativo do produto.
Entre os países que já legalizaram a planta, faixas demográficas não-usuais ao mercado consumidor consolidado têm aparecido. Segundo a Euromonitor, é crescente o número de mulheres nascidas entre 1946 e 1964, chamadas de baby boomers, que fazem uso dos princípios ativos da maconha para melhorar o sono ou aliviar dores, por exemplo.
Desconstruindo indústrias tradicionais e estereótipos
Para os que seguirem a corrente da legalização, a mudança em indústrias tradicionais deve ser iminente. “As gerações mais novas estão cada vez mais tentando desacelerar o consumo de álcool”, explica Spiros.
Segundo o analista, a maconha pode ser um ponto de atuação para o segmento, com bebidas não alcoólicas com infusão de THC ou CDB, por exemplo – dependendo do objetivo de cada consumidor. Já há produtos no mercado que seguem essa tendência. O Sober Up, que conta com infusão de canabidiol – princípio ativo não psicoativo, é indicado para curar a ressaca de uma bebedeira. Já a Grainwave, que tem THC em sua composição, pretende ser uma opção recreacional aos que tomam cerveja.
Outro segmento que se beneficiaria pela entrada da planta em sua linha de produção é o comércio tabagista. Segundo Shane MacGuill, líder de pesquisas em tabaco da Euromonitor, ambas indústrias partilham de um mesmo propósito, o bem-estar mental e o relaxamento temporário. Há também outros pontos estratégicos de empresas de tabaco na indústria nascente da Cannabis. Entre eles, a rede de produtores rurais já consolidada, o respeito às amplas regulamentações impostas pelo governos e a construção de marca em ambientes restritivos à publicidade. “Com a legalização, pessoas poderiam escolher o CDB para largar a nicotina, por exemplo”, afirma Shane.
Apesar disso, a visão dos pesquisadores é que, para que essas movimentações funcionem – tanto da indústria quanto da proximidade aos consumidores não usuais –, será necessário um trabalho de comunicação massivo para mudar a opinião comum em relação aos estereótipos dos usuários da planta.

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